segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Confabulando com Marvin - pt.I

♥ Vitor Furioso

"As baratas apareceram sobre a face da terra há aproximadamente 400 milhões de anos e são, sem dúvida, alguns dos insetos mais conhecidos e causadores de repulsa nos seres humanos desde os seus primórdios".


PARTE 01 - O ENCONTRO.


O que fazer em um domingo à noite? Poucas opções, quase nenhum amigo, muitas frustrações, nenhuma disposição. A única coisa que tenho em excesso na minha casa é cerveja, então o jeito é desfruta-la, e é isso que vou fazer.

É incrível a quantidade de porcarias que a televisão produz, atrações desprezíveis e fúteis, que só fazem o povo admirar quem teve muita sorte na vida, e esquecer que amanhã estarão lá novamente, passando seus crachás e aguentando desaforos em troca de um salário de fome. Eu não me excluo deste grupo, mas a diferença é que, não fujo da realidade através da tela de uma televisão... para isso existe a cerveja, e falando nisso, vou beber mais uma.
Já estava na sexta lata de cerveja, morava sozinho, a música e a bebida me faziam companhia há anos, isso sem falar nas baratas, bichos nojentos.

A casa estava bastante empoeirada naquele dia, fazia um mês que eu não a limpava, a mancha de vinho, que derrubei no piso de tacos na semana passada, ainda estava lá, dando um toque especial àquela decoração feita com móveis antigos, deformados, que recebi dos parentes. Ao invés de jogarem fora o que não iriam mais utilizar, me davam, e eu recebia de bom grado, se não achasse utilização para aquilo, eu mesmo descartava. Muitas vezes doava para o meu vizinho de frente, que pegava tudo o que é porcaria que deixavam em sua porta, o desgraçado fazia uma fogueira com tudo aquilo, como fez com aquela cama que quebrou aqui em casa, enquanto trepava com Tânia, a biscate pulava feito uma cabrita no cio, destruiu a minha cama favorita, mas valeu à pena, foi uma trepada maravilhosa em uma noite atípica em minha rotina.

(Cacete! Derrubei a cerveja no chão!)
Enquanto me dirigia à cozinha para pegar outra latinha, ouvi uma voz muito fina e estridente, resmungando. Parei por um momento, será que estava bêbado demais? Não! A voz estava lá, e agora conseguia entender o que dizia:

- Porra, de novo esse pau d`agua me fez essa merda!
- CARALHO!
- Estou ensopado de cerveja agora!
- PUTAQUEPARIU! QUEM ESTÁ AÍ?!

Aquela voz parecia que vinha de todos os lados da sala, e entrava em meus ouvidos de forma estridente, mas eu não conseguia identificar de onde ela vinha, achei que estava ouvindo coisas, e por um breve instante, até desisti de ir pegar outra lata de cerveja, mas me diriji até a geladeira e abri outra lata de Antárctica, afinal de contas, eu devia estar delirando.

Todo trabalhador conhece os efeitos de uma noite de domingo.

Voltei para a sala, deitei no sofá, já eram oito e meia da noite, acabou sendo inevitável pensar na cara das pessoas que iria encontrar amanhã pela manhã. O Moreira e aquele terno marrom, todo engomadinho e com cara de veado, tenho uma vontade enorme de xinga-lo, de falar em sua cara tudo o que acho daquele seu jeitinho politicamente correto de ser, mas... melhor pensar em Suzana e sua arrogância, a menina tem o rei na barriga, e não consigo entender o motivo, deve ser uma forma de camuflar sua frustração. A única coisa que aprecio nesta garota são seus seios maravilhosos, chego a sonhar com eles. É complicado, muito complicado ter de passar 9 horas por dia com pessoas assim desagradáveis, mas para não ficar sem sua moral (e suas cervejas), temos de aguentar.

E então, aquela voz fina e estridente volta a surgir em meus ouvidos:
- Cara, hoje você está insuportável!
Que estranho, desta vez senti uma certa moleza nesta voz, como se estivesse embriagada...
- QUEM É, PORRA?!
- Quem você acha que é?! Quem mora aqui além de você?
- NINGUÉM! EU MORO SOZINHO, CACETA!

Acho melhor mudar a marca da cerveja, que coisa estranha!
Olhei a data de validade no fundo da lata, ainda estava dentro do prazo. Passei a andar em volta da mesinha de centro da sala, alguns tacos do piso estavam soltos, tropecei em um deles e fui ao chão. A lata voou no sofá, era a segunda cerveja que eu desperdiçava em menos de uma hora, porra!

Resolvi permanecer deitado, na posição como caí, e então, dormir... engano.
Bem em frente ao meu rosto, eu a vi alí parada, me encarando. Eu nunca havia visto uma dessas de tão perto. Era realmente um animal asqueroso, por um breve momento cheguei a lembrar da mãe de uma amiga minha, Dona Flora, definitivamente não conseguia dizer qual criatura era mais horrenda, Dona Flora, ou esta barata parada aqui, pertinho de meu nariz?!

- Cara, você está horrível!
Cacete, era só o que me faltava, ter de ouvir isso de uma barata! BARATA?!
Levantei depressa, e não acreditava no que estava acontecendo, aquela voz estridente era de uma barata?!
- Cuidado! Vai acabar pisando em mim!
Acho melhor eu parar de ler esses livros de terror, estou vendo coisas!
- O que há com você hoje? Não estou te reconhecendo!
- Olha, não tive um final de semana muito bom, no final das contas, estou aqui é afogando as mágoas. (Minha nossa, estou conversando com uma barata!)
- Olha, se quiser conversar...
- Eu não vou ficar aqui levando isto a sério!
- Cara, você tem noção de que já inundou minha casa com bebidas alcóolicas 3 vezes nas últimas duas semanas?! E foi por isso que resolvi vir aqui falar contigo, acho que estou gostando disso.
- Gostando do quê?
- Das bebidas, cara!

Ah não... é melhor eu ir dormir, uma barata bêbada era tudo o que me faltava!

- Pô, cara! Não vá embora, eu existo mesmo, olha eu aqui na sua frente!
Não podia acreditar naquilo, amanhã deverá ser um dia muito melhor para mim, é melhor eu ir dormir.
Rodando de um lado para o outro na cama, não conseguia esquecer aquela situação. Me levantei e tomei um banho frio, o efeito do álcool diminuiu.
Não resisti, me dirigi novamente à sala, e chamei pela barata, não houve resposta, menos mal.
Ainda não convencido, me dirigi à cozinha novamente, abri uma lata de cerveja, tomei apenas um gole, o resto eu joguei no chão, no mesmo lugar de onde a barata havia saído anteriormente. O líquido escorria pelo vão existente entre um taco e outro do piso, alí claramente havia um buraco. Esperei alguns instantes, e nada da barata, definitivamente me convenci de que aquilo não havia passado de um sonho esquisito.
Joguei a lata de cerveja no lixo, e quando estava me dirigindo novamente à minha cama, aquela vozinha estridente entra como uma lâmina em meus ouvidos, dizendo:

- SEU FILHO DA PUTA!

4 comentários:

  1. Excelente conto, muito criativo. Quero ver a continuação!

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  2. Hehehe, legal, fiquei curioso com os próximos diálogos.

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  3. Olha, primeira visita nesse blog e tenho nem o que dizer, tipo, ADOREI! Hilário, apesar do meu medo gigante de baratas [cara, barata morde, e não, nem tô bêbada!]

    E nunca, NUNCA, eu disse NUNCA iria dar a minha preciosa cerveja pra uma. Mas se for Antarctica, vai até com gosto pra essa famigerada!

    Gostei daqui, favoritado, aguardemos as próximas!

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  4. Gostei,ou melhor, adorei!!! Mas nada que um bom DETEFON não resolva!!!

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