sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ana e eu – Vida conjugal

Victor Marques.


Sinceramente não entendia porque ela havia voltado, nem eu, que era o dono da casa achava o ambiente muito agradável. Mas pensando pelo lado otimista, talvez fosse bom partilhar meu tempo livre com uma mulher, Ana era uma boa mulher.

Quando abri a porta para ela entrar com aquela mala de roupas, fiquei embasbacado, não consegui pronunciar palavra alguma, apenas a ouvi dizendo:

-Faça o favor de ajudar a tirar as coisas do carro, acha que a minha mudança é só uma mala de roupas?

-Ah sim, pode deixar.

Quando abri o porta-malas fiquei chocado da quantidade de coisas que estavam ali, metodicamente dispostas. Uma televisão pequena, um rádio portátil, utensílios domésticos, um pouco de comida, uma coleção de garrafas de cerveja vazias, roupas, uma arara desmontada... Parecia que pretendia ficar um tempo por aqui.

Fiz cerca de cinco viagens para tirar tudo do carro. Quando entrei na sala, ela estava sentada no sofá, sua cara não era das melhores. Resolvi perguntar porque resolvera mudar para a minha casa, quanto tempo gostaria de ficar, se ajudaria nas despesas domésticas e etc.

-Olha...

Ela me interrompeu num choro convulsivo, fora expulsa da casa de sua avó, não tinha a quem recorrer e pensou em mim. Depois de ouvir tudo aquilo, fui incapaz de perguntar qualquer coisa, minha única reação foi lhe oferecer uma cerveja.

A única coisa que consegui perguntar foi se ela gostaria que eu dormisse na sala, a idéia não foi muito bem vista, dividimos a cama num sono profundo, sabendo que uma manhã de segunda feira nos aguardava.

Acordei por volta de dez horas, ela já estava acordada, fazendo o nosso café da manhã. Quando me sentei à mesa, ela estava refeita, estava com uma cara ótima, acho que foi porque não restringi sua estada em minha casa. Achei que o momento era bom para perguntas.

-Então... Quanto tempo pretende ficar?

-Não sei, mas se você quiser que eu saia, por mim tudo bem.

-Pode ficar, gosto de você.

-Ótimo, pretendo ajudar nas despesas da casa também.

-Isso é bom, não posso sustentar mais um aqui.

Ela acabou de tomar seu café e foi tomar um banho, precisava sair para trabalhar. Não se demorou muito e quando saiu do banheiro, estava muito bonita, de uma maneira que nunca havia observado.

Despedimo-nos com beijinhos de bom dia e ela se foi em seu carro para o bar onde trabalhava. Resolvi tomar um banho também. Quando entrei no banheiro, quase caí, havia um arsenal de xampus, condicionadores e maquiagem. Precisava aprender a conviver com tudo aquilo.

O dia passou rapidamente, dei duas aulas particulares depois do almoço, parei em uma padaria para tomar uma cerveja no fim da tarde, comprei uma edição de bolso de ‘A Peste’ e rumei de volta para casa.

Por um instante esqueci que tinha uma nova hóspede e me pus de cueca na sala para assistir um pouco de televisão e tomar uma cerveja. Relaxei a tal ponto que adormeci ali mesmo por uns instantes, até que a campainha me acordou, era ela.

-Você poderia me providenciar uma chave, já que estou dividindo a casa com você.

-Não sei, nunca chego depois de você.

-É, assim não me preocupo em perder a chave.

-É, pegue uma cerveja na geladeira se quiser.

-Claro, meu amor.

-Amor?

-Por que não?

-É, por que não?

Precisava me acostumar com aquilo também.

Bebemos uma cerveja, trocamos perguntas cotidianas, e as duas da manhã ela resolveu dormir.

-Vá lá, vou ler um pouco.

-Tudo bem, te espero na cama.

Li até três horas da manhã e fui para o quarto, quando entrei, ela ainda estava acordada, estava me esperando.

-Queria te dar um beijo de boa noite –ela disse.

-Tudo bem, boa noite.

Naquela noite eu não pretendia dormir muito tarde, mas quando me dei conta, estávamos envolvidos em uma foda louca que durou até as seis da manhã do dia seguinte, quando o sol começou a nos espiar trepando.

Depois de dormir algumas poucas horas, fui acordado pelo som do rádio, fiquei com raiva, mas pelo menos era uma música que me agradava. Fui à cozinha e lá estava ela, de calcinha e camiseta preparando alguma coisa para o almoço.

-Bom dia, amor.

-Bom dia.

-Carne ou frango?

-Carne.

Ao fim de uma semana parecíamos casados. Casados... Isso definitivamente me assustava! Como poderia levar uma vida conjugal sem reclamar, sem ver problema nenhuma naquilo?

Fui levando aquilo tudo numa boa, não recebia mais amigos para casa, não fumava mais na cama, não lia até três horas da manhã. Estava me adaptando a vida a dois.

Um comentário:

  1. A história está muito consistente e realista, estou curioso pra saber no que vai dar isso tudo.

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