quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ana e eu - Divórcio.

Victor Marques.

Após um mês de convivência eu percebi que a tampa da privada sempre estava abaixada, as cervejas estavam acabando mais rápido do que o previsto, eu não via mais ninguém além de Ana, estava pagando o preço do “casamento”.

Um dia vi que esse preço era alto demais. Aquela foi a gota d´água, não ficava tão possesso desde que um mendigo cagou na porta de casa. Um maço de cigarros meu havia desaparecido, aquilo sim era revoltante! Precisava ter uma conversa séria com Ana.

Aquela era a sexta feira que marcava um mês de nossa vida conjugal. O dia se arrastou, não via a hora de ela chegar em casa para que tivéssemos uma briga homérica. Sim, eu realmente desejava brigar. Não consegui pensar em outra coisa, nem em minhas aulas conseguia me concentrar, me peguei dando um exercício que a frase a ser analisada era “Ana roubou meu maço de cigarros.” O mais estranho foi que dei essa frase para uma criança de nove anos de idade.

Cheguei em casa mais tarde do que o habitual, fui dar umas aulas de redação para uma mulher de trinta e cinco anos que ia prestar vestibular para física. Ela era muito gostosa, o que só fui descobrir na segunda aula, naquela sexta feira só conseguia pensar no meu maço de cigarros extraviado.

Estava atordoado, sentei-me na cozinha, abri um litro de uísque que estava guardando para uma ocasião especial. Tomei um quarto da garrafa em menos de uma hora. Ela tocou a campainha, estava acompanhada de uma amiga que eu nem notei.

-Você pegou um maço de cigarros que era meu!

-Peguei... Por quê?

-Era meu, porra, você que compre os seus.

-Foi só um maço de cigarros.

-Foi um maço de cigarros hoje, amanhã será outro, depois outro! Não sabia que você me ajudava a pagar pelos cigarros também.

-Filho de uma puta, quando vim morar aqui, isso parecia um chiqueiro, devia de me agradecer por não viver mais como um porco.

-Você que deveria me agradecer, a merda da casa é minha, você não tinha nem merda para tirar do seu cu quando veio morar aqui!

-Vai jogar na minha cara?

Só aí que notei a amiga dela estava sentada no sofá assistindo a tudo aquilo de camarote, horrorizada. Ela não conseguia piscar. Tinha uns vinte e cinco anos e parecia nunca ter visto homem nenhum naquele estado de cólera, ainda mais por um maço de cigarros.

-Boa noite pra você, se quiser, tem cerveja na geladeira. –Disse para a amiga dela.

-Aproveite e pegue uma para mim.

Ela foi e eu continuei a briga com Ana.

-É o maço de cigarros, a tampa da privada, toda aquela quinquilharia no meu banheiro, as suas calcinhas no box, todas essas coisas me irritam, mas que porra!

-Você é um grande filho da puta!

-Pois eu acho que é você. –Disse sarcasticamente.

A amiga retornou a sala com dois copos de cerveja bem cheios e me entregou um deles. Estava com o medo estampado na cara, mas esboçava uma risada amarela, tentando entender tudo aquilo.

-Me desculpe, nem perguntei seu nome?

-Carolina, mas pode me chamar de Carol.

-Ah sim, me chamo Victor, mas por me chamar de Agnaldo.

Era visível a minha irritação, voltei-me à Ana, que estava com o rosto vermelho de ódio.

-Ela é minha irmã, ela veio aqui para conhecer você.

-Pau no cu dela! Ela que viesse num momento melhor.

-Agora chega!

-Eu que o diga. CHEGA. –Atirei o copo na parede, coisas que aprendi com uns amigos meus

Não se falou mais nada durante alguns instantes, até que ela tirou o maço da bolsa e jogou no meu colo.

-Pode ficar, para você se lembrar dos nossos últimos momentos juntos. –Devolvi o maço a ela.

-Então acabou?

-Creio que sim, pelo menos por enquanto.

Fui até a cozinha tomar uma cerveja, ela foi ao quarto arrumar suas coisas, disse que depois passaria para pegar o resto, eu insisti para que levasse tudo de uma vez.

E lá se foram as duas, cantando pneus pela rua, como se tivessem pressa de sair depressa dali.

Fui até a calçada e achei o maço de cigarros no chão, amassado pelos pneus do carro.

2 comentários:

  1. Quando eu comecei a ler, claro, me identifiquei com a "Ana", mas eu jamais roubaria um maço de cigarros.

    Parei de fumar, hihihihi!

    Cerveja, se for boa, roubo na caruda. E acho que a Ana tinha razão.

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